O PECADO ORIGINAL

Por: João H. L. Ferreira.

           

De acordo com a Teologia clássica, para haver pecado é necessário:

 

A pessoa SABER que é pecado (Entender que determinado ato é pecado);

 

Sabendo, precisa DESEJAR pecar (O desejo tem que ser o de fazer o ato);

 

O ato tem que ser de LIVRE e espontânea VONTADE (Não pode ser induzido).

 

Tem que ter GOSTADO dos frutos do pecado.

 

Os 3 primeiros pressupostos também estão dentro do Direito Penal. para se eximir ou não o réu de culpabilidade (E, por conseguinte, de ser apenado). Isso posto; gostaria de analisar o texto de Gênesis sobre a ótica acima, verificando onde houve o primeiro pecado e se era imputável ou não de culpa.

 

Em um primeiro momento, creio ser impossível Adão e Eva pecarem; pois ambos não tinham entendimento de CERTO e ERRADO (Eles ainda não tinham comido da árvore do Bem e do Mal. Tinham conhecimento limitado, tal qual uma criança).

 

Dessa forma, Eva, antes de comer a maçã, tinha, pelo menos, UMA das EXCLUDENTES: Tinha conhecimento / desenvolvimento mental incompleto. Por isso, o ato de Eva ter comido a maçã, em sí só, NÃO FOI PECADO.

 

Mas se isso não foi pecado, onde estaria o PECADO? Vamos prosseguir na análise do SEGUNDO EXCLUDENTE de culpabilidade: O DESEJO.

 

Alguns teólogos afirmam que o pecado seria DESEJAR ser igual a Deus. No entanto, não é um DESEJO natural, de uma CRIANÇA, querer ser igual à seu pai? Não é da natureza humana DESEJAR crescer e ganhar conhecimento? Então, onde estaria o pecado de Eva desejar ser igual ao seu Pai (Deus era o único pai que ela conhecera; origem de sua vida); de querer obter conhecimento; de ser adulta? Onde estava o DESEJO da ILICITUDE? Nesse aspecto, diga-se de passagem, o próprio Deus nos incentiva a BUSCAR a PERFEIÇÃO e a SANTIDADE, nos fazendo IGUAIS à Ele. O próprio Jesus nos diz: SEDE PERFEITOS ASSIM COMO VOSSO PAI CELESTIAL É PERFEITO. Se o próprio Deus nos CHAMA ao esforço de PROCURAR a PERFEIÇÃO e a SANTIDADE, sendo SEMELHANTES a ELE, devendo essa PROCURA ser de toda a força e de todo o coração, então, por que culpar Eva por querer ela também ser IGUAL AO PAI?

 

Ao comer a maçã Eva não DESEJAVA nenhum resultado ilícito, mas a realização da vontade de Deus, como exortaria o próprio Jesus Cristo como obrigação de todo o FILHO DE DEUS.

 

Passamos, então, para o próximo excludente: Eva, ao comer a maçã, não o fazia de LIVRE e ESPONTÂNEA VONTADE, mas foi INDUZIDA AO ERRO pela serpente; que é na verdade Lúcifer, anjo que era o braço direito de Deus (Eva não sabia de sua queda). Eva estava sendo induzida por alguém que, a seu ver, tinha uma determinada autoridade. Deus não estava presente, mas o seu lugar tenente, Lúcifer, estava.

 

Lúcifer era um REPRESENTANTE DE DEUS, um anjo de luz, superior a todos na hierarquia angelical. Basta ler um pouquinho de psicologia (Piaget) para entender que, para uma criança, SIMBOLO e REALIDADE se CONFUNDEM em um só. Por isso, para Eva, Lúcifer, ANJO, que SIMBOLIZAVA a VOZ do PRÓPRIO DEUS, teria CONFUNDIDO Eva. Essa própria representação (ANJO) seria visto como uma figura de AUTORIDADE, dizendo que estava tudo bem se ela comesse a maçã.

 

 

Assim, por todas os lados que se olhe, analisando as excludentes, Eva não teria pecado quando comeu a maçã. Mas então; onde houve o pecado? Vejamos o que vem a seguir: Eva oferece a maçã à Adão.

 

Quando Eva ofereceu a maçã para Adão, caiu a primeira excludente. Ela já sabia que era ERRADO. Ela já tinha comido da árvore do bem e do mal.

 

Logo depois caiu a segunda excludente. Ao dar a maçã para Adão já o fazia de LIVRE e ESPONTÂNEA VONTADE, pois a serpente não falou para ela oferecer o fruto a Adão. de LIVRE E ESPONTÂNEA VONTADE, sem ter sido induzida pela serpente, oferece a maçã para Adão.

 

Agora vale uma pausa: Quase todo o PECADO é PRAZEROSO. Se ele não fosse prazeroso não nos tentaria. Além disso, todo o pecado, tem conseqüências funestas no futuro. Então, vem grande questão: Qual o ser humano que, de livre e espontânea vontade, buscaria o mal para si mesmo? Quem assim o faz deve estar doente. O ser humano, em sua normalidade, busca o prazer e o bem estar. Se esse prazer (Como a bebida) vai encerrar um mal estar futuro, e o ser humano o faz; ou o faz por inexperiência do efeito futuro (Nunca bebeu, e por conseguinte não sabe o que é perder o controle ou sofrer com o porre do dia seguinte); ou sabendo do efeito futuro, cede ao desejo do prazer do sentir no presente, o faz por já estar com o seu juízo comprometido pelo próprio vício. Em ambos os casos, prova ser um ignorante ou doente (Alcoólatra). O pecado é correlato à doença da alma que, a debilitando, mina a capacidade do ser humano sobre a sua própria vontade, pervertendo, tal como o álcool, a vontade do homem, passando este a DESEJAR o MAL que DEVERIA EVITAR. O pecado, com o passar do tempo, e re-interado pela prática, perverte a nossa consciência e mina nossa resistência ao próprio pecado, nos fazendo ficar prisioneiros dele. Como Deus é PERFEITO, o Homem passa a evitá-lo, pois estar diante de Sua face, o faz lembrar que devido ao PECADO perdeu a perfeição dada por Ele.

 

A pessoa, então contaminada pelo pecado, sabendo que é errado; não mais resiste à ele (pecado). Agora, passa a desejar fazer o errado; o faz de livre e espontânea vontade; por já ter o seu juízo comprometido. O pior, leva os outros a cometerem o mesmo erro; pelo simples fato de sentir prazer com o ato de trazer o outro para o pecado. Isso é o PECAR por excelência: Errar por que se tem o PRAZER no erro, sabendo ser errado, de livre e espontânea vontade o comete, levando o outro ao mesmo pecado. Esse é o pecado por excelência, pois aprisiona, escraviza, corroei e destrói o ser humano de dentro para fora, levando o outro a cometer o mesmo ato, sendo também prisioneiro do mesmo erro.

 

Eva, quando oferece a maçã para Adão, já sabia que era errado (Já tinha a ciência do Bem e do Mal), desejava fazer isso de livre e espontânea vontade (A serpente não dissera para ela dar a maçã para o Adão), mas SOBRETUDO vira que o FRUTO ERA DESEJÁVEL (Prazeroso). Eva não tenha ainda o seu juízo comprometido pela re-interação do ato, mas o fez por PRAZER de compartilhar o fruto com Adão para não ficar sozinha na sua condição de pecado.  Assim, o pecado se dá quando Eva oferece a maçã à Adão e se CONSUMA (Atinge o seu objetivo) quando este a morde. Temos assim o PECADO ORIGINAL, que é o de Eva, que sabendo ser errado, induz Adão ao erro. O comer da maçã de Adão é somente a CONSUMAÇÃO do pecado de Eva. Se o PECADO de Adão existe, ele é o de omissão; pois, se estava presente a TUDO (O que duvido) e NADA DISSE; pactuando com Eva, mesmo que em silêncio; mesmo que não por ação; também assim o peca.

 

 

Dessa forma, Adão e Eva pecam e são expulsos do Paraíso.

 

 

Atenção: Esse texto pode ser copiado ou utilizado, em todo ou em parte, desde que cite como origem a "Página pessoal de João Henrique Lacerda Ferreira em www.jhlf.com.br".

 

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